"Místicos, ao contrário de religiosos, dizem sempre
que a realidade não é duas coisas - Deus e o mundo - mas uma única coisa,
a consciência."
(Amit Goswami)
Considerado um dos grandes físicos da atualidade, Amit Goswami, Ph.D em Física Nuclear, foi professor do departamento de Física da Universidade de Oregon, Estados Unidos, por 32 anos. Ativista quântico, trabalha atualmente como consultor, escritor, conferencista e pesquisador.
Materialista a partir dos 14 anos de idade, Amit sentiu que estava seguindo por um caminho equivocado aos 45 anos, durante uma conferência de física, e posteriormente, ao conversar com o místico Joel Morwood. Diz ele: "Eu tive o insight criativo de que a consciência, e não a matéria, é o terreno no qual a existência e a ciência podem e devem ser realizadas, nessa base metafísica".
Goswami tem vários livros publicados e é hoje conhecido e respeitado mundialmente. Seu foco tem sido a união entre ciência e espiritualidade.
Transcrevemos a entrevista a seguir, concedida a Wanise Martinez, publicada na revista Sexto Sentido:
O senhor disse que a ciência e espiritualidade têm de
trabalhar juntas. De que forma isso é possível?
A espiritualidade agora é vista como sendo científica. A
questão importante é: ciência e religião podem trabalhar juntas? A ciência está
nos ajudando a diferenciar espiritualidade e religião. A espiritualidade é um
chamado natural para alguns de nós e não pode ser considerada como parte da
pauta secular que separa estados e religiões. Religiões referem-se a formas de
manifestar a espiritualidade em nossas vidas e existem muitos modos disso
acontecer; nós devemos ser livres para investigar todas as religiões, até o
ateísmo, para descobrir a espiritualidade. Esse movimento em direção ao que as
pessoas estão chamando pós-secularismo é uma das mais importantes contribuições
do novo paradigma da ciência integrando ciência e espiritualidade.
A que o senhor atribui essa aproximação cada vez maior
entre a ciência o conhecimento das tradições místicas espirituais?
Eu penso que a nova integração de ciência e
espiritualidade é parte de uma jornada evolucionária de uma tendência racional
para uma intuitiva, na qual não apenas o pensamento racional é valioso, mas
também está integrado com emoções e intuições.
De que maneira é possível fazer essa relação? Em que
ponto elas se unem?
Agora que a ciência está dando suporte ao centro da
sabedoria mística que existe por trás das religiões populares, estas vão deixar
de ser defensivas, e a modernização que há muito é necessária a elas pode
ocorrer. Muitas religiões – o Islã é a mais visível – precisam modernizar-se e
reconhecer a necessidade de se abrirem e de se tornarem disponíveis não apenas
para uns poucos escolhidos, mas também para as pessoas comuns, inclusive as
mulheres.
Qual é a principal relação entre a física quântica e o
processo criativo existente nas pessoas?
O processo criativo humano apenas pode ser entendido quando
nós reconhecemos a física quântica do movimento do pensamento. Por exemplo, o insight criativo
é um salto quântico descontínuo do pensamento, no estilo do elétron atômico que
salta de uma órbita para outra sem passar através do espaço entre elas.
O senhor acredita que a criatividade nasce com as pessoas
ou é aprendida ao longo da vida? Existe alguma forma de desenvolvê-la mais
rapidamente?
A criatividade é universalmente inata em nós, mas o
talento, não. Nossa sociedade encoraja preferencialmente a criatividade de
pessoas talentosas. Isso é um problema. Contudo, nós podemos superar a falta de
talento por meio do aprendizado e percebendo que a mais admirável arena da
criatividade é a criatividade interna, a criatividade devotada aos objetivos
espirituais de transformação.
Por que escolheu como foco de pesquisa estudar a relação
mente-corpo por meio da cosmologia e da mecânica quântica? Qual é o seu
objetivo?
Como cientista, nunca me senti contente com o compromisso
que muitos cientistas que veem valor na espiritualidade tendem a aceitar – ou
seja, ser um cientista e acreditar no materialismo científico de segunda a
sexta-feira, e tornar-se um crente na metafísica espiritual no fim
de semana. Eu acredito que existe apenas um mundo e uma percepção do mundo.
Agora, eu descobri que isso é assim. Meu objetivo é trazer esse ponto de vista
monístico para a forma como vivemos e em torno da qual nossa sociedade é
construída. Consequentemente, estou pondo em prática um movimento chamado
“ativismo quântico”.
Como o senhor lida com as críticas, tanto pelo lado da
ciência quanto do místico e religioso?
Com paciência. Tanto a ciência quanto a religião estão
confortáveis em seus respectivos casulos. A ideia de uma mudança de paradigma é
desconfortável para as pessoas que estão no poder. O novelista Upton Sinclair
disse algo a respeito: se as pessoas estão conseguindo viver sem entender algo,
torna-se difícil fazê-las entender. Os jovens são tão livres para pensar como
são os jovens de coração, que não possuem interesses adquiridos.O ativismo
quântico é dirigido a essas pessoas.
Por que o princípio da incerteza é fundamental em nossa
consciência?
O princípio da incerteza aponta que as interações
materiais só podem gerar possibilidades. Uma consciência não material é
necessária para converter possibilidades em realidades.
O senhor afirmou em uma entrevista ao programa Roda Viva,
aqui no Brasil, que os cientistas normalmente dizem que a ciência deve ser
objetiva, mas que o senhor percebeu que a ciência deve ser objetiva somente até
certo ponto. Que ponto é esse? O senhor acredita que a ciência pode adentrar o
universo da subjetividade sem perder seu foco principal de pesquisa?
A ciência pode ser objetiva quando está lidando com
números grandes para os quais tudo o que você precisa são as probabilidades que
a física quântica torna possível calcular. Porém, na importante área da
criatividade, incluindo espiritualidade, eventos únicos são importantes, e a
subjetividade passa a ter destaque. Nesse sentido, a própria evolução é
parcialmente objetiva, darwiniana; mas aí existem as lacunas fósseis, que
significam eventos descontínuos de saltos quânticos criativos nos quais tem
papel a subjetividade de espécies inteiras.
O senhor acredita que a ciência unida à espiritualidade
pode melhorar a relação existente entre os seres humanos, e entre os humanos e
o planeta?
Sim, mostrando que nós somos todos um, toda a biota
planetária (biota = conjunto de todos os seres vivos de uma região). A nova
ciência está dando um novo significado à expressão “ecologia profunda”.
De que forma as pessoas podem encontrar a cura para suas
doenças na própria consciência?
Se a doença está no nível da energia vital ou mental, a
cura também deve ocorrer nesses níveis. Essa cura é a cura quântica que se deve
aos saltos quânticos em nossos pensamentos e sentimentos.
A espiritualidade tem mais possibilidade de curar do que
a ciência ou as duas devem trabalhar juntas?
Podem-se obter muitas vantagens em trabalhar juntos. A
ciência médica material nos ajuda a ganhar tempo precioso, que é necessário
para conseguir saltos quânticos conscientes, insights de cura.
Em seu livro Evolução Criativa das Espécies (Ed.
Aleph), o senhor fala dos equívocos nas teorias tradicionais evolucionistas.
Qual o senhor acha que é o principal deles?
A mais importante concepção errônea é que a teoria de
evolução contínua do darwinismo possa explicar as lacunas fósseis (a
descontinuidade nas linhagens fósseis evolucionárias).
O senhor acredita em Deus ou na existência de uma força
superior?
Sim. E não é apenas uma crença. Está respaldada tanto por
investigações científicas quanto por minhas próprias experiências de vida.
Quais são os seus projetos futuros como físico? E como
espiritualista?
Como físico quântico, eu quero aplicar a ciência à
consciência, a nossos sistemas sociais, desenvolver uma economia espiritual.
Como uma pessoa espiritual, eu sou um ativista quântico.
O que o senhor gosta de fazer nas horas livres?
Caminhar na natureza com minha esposa. Ler romances
históricos. Meditar.
O senhor se sente realizado profissionalmente? O que
ainda deseja fazer?
Bem... a mudança de paradigma ainda não está completa. Eu
espero viver o bastante para vê-la se completar. Eu quero inspirar pessoas a
seguir o ativismo quântico, a usar os princípios quânticos para transformar a
si mesmos e a sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.