Pincei este elucidativo texto do livro "A Física da Alma", de Amit Goswami:
"Nos Upanishads, há uma descrição dos cinco corpos do ser humano. O mais grosseiro é o físico, renovado constantemente por moléculas de alimentos e, por isso, chamado em sânscrito de annamaya (feito de anna, comida). O próximo corpo sutil é chamado de pranamaya (feito de energia vital, prana); refere-se ao corpo vital associado aos movimentos da vida, expressados como reprodução, manutenção etc. O próximo corpo, ainda mais sutil, é manomaya (feito de mana, substância mental), ou seja, o corpo do movimento da mente, do pensamento, discutido anteriormente. O seguinte, chamado de vijnanamaya (feito de vijnana, inteligência), é o intelecto supramental ou corpo de temas, o repositório dos contextos de todos os três corpos 'inferiores'. Finalmente, o corpo anandamaya (feito de ananda, não substancial, a alegria espiritual ou sublime), corresponde a Brahman - a base de toda a existência, a consciência em sua qualidade última."
Os ioguis e os mestres autorrealizados, através de técnicas de meditação, relatam o mesmo tipo de experiência ao conseguir transcender os corpos menos sutis da consciência. Todos são unânimes em descrever um estado de bem-aventurança (ananda), no qual percebem a si próprios mergulhados num único oceano de paz, inteiramente e incontestavelmente ligados a tudo e a todos.
Yata Brahmande Tata Pindade: todo o sistema védico se baseia nesta premissa fundamental, que significa: "Assim como é no Universo, assim é também no Ser", revelando, desde os primórdios da história da humanidade, a lei sagrada da unidade de tudo e de todos e a interrelação de todos os mundos existentes.
Mas por que não percebemos a chamada "unidade na diversidade"?
Em primeiro lugar, porque estamos todos voltados para fora. Sempre olhando e analisando os fenômenos externos, nunca o nosso interior. Com o amadurecimento da consciência, surge a necessidade de mudança de foco. É um processo que pode ser acelerado com disciplina e aprofundamento (meditação), segundo as escrituras.
A dualidade da matéria não é uma realidade, embora a vejamos como tal - é uma ilusão. Uma grande ilusão, porque partilhada por muitos - a maioria. A partir do momento em que a consciência apreende o universo físico, passa a participar da unidade e a viver em unidade. A Mundaka Upanishad, I:1,3, diz que a consciência (atma), é "aquilo através do qual o universo inteiro pode conhecer-se". Esta definição explica a afirmação da Brihadaranyaka Upanishad, I:4,10: Aham Brahma Asmi, (eu sou Brahma).
Alfredo Puig Figueiroa, ex-presidente da Sociedade Teosófica do Brasil, é autor do seguinte texto:
"Um simples estudo superficial dos Vedas pode mostrar-nos a unidade subjacente
a esta multiplicidade de nomes desses Deuses e o que representa cada um; mas
quem puder ler nas entrelinhas dos textos védicos irá compreendê-los como
atributos diferentes do mesmo Ser Supremo. Talvez em nenhum outro lugar seja possível
encontrar a idéia da unidade na multiplicidade com uma expressão mais eloqüente
do que nas passagens dos diversos Vedas que foram aqui mencionados. Como exemplo, citamos
o Rig
Veda 1. 64.46, que diz: 'A verdade é uma só, os sábios a designam por
vários nomes'.(...) A utilização dessas preces ou orações [védicas] é como um
procedimento definido para enviar correntes de pensamentos nobres e elevados
para todos os planos de existência nos Universos, os quais incluem desde os
Deuses e os homens, até as aves e bestas, ervas e árvores; essas preces se
destacam pela amplidão da fraseologia e seu caráter onisciente."
Sri Sathya Sai Baba, Mestre Védico |
A descoberta da teia cósmica que permeia todo o universo é uma prova de que os Vedas não tratavam de ficção, mas de uma realidade intrínseca universal, acessível a todos aqueles que se lançavam no aprofundamento da consciência, rompendo os involtórios dos corpos mais densos até chegar à essência de tudo, Brahman, Deus, o Incognoscível, o Absoluto.
Estamos agora num momento em que todas estas verdades, novas e ancestrais, devem se revelar, mesclando-se aos nossos olhos, parecendo, de início, um quebra-cabeças complexo, mas que, na verdade, é de uma solução tão óbvia que nem percebemos, numa primeira vista.
Mergulhar em si mesmo, sair desse mundo repleto de falsos paradigmas, buscar a essência é o que todos estamos necessitando para nos sentirmos em unidade. Além das teorizações, muito além do olho físico que vê superficialmente, reina o mundo do impenetrável silêncio, onde todas as almas se encontrarão e serão uma.
Paramahansa Yogananda |
SAMADHI (*)
Levantados
os véus de luz e sombra,
evaporada toda a bruma de tristeza,
singrado para longe todo o amanhecer de alegria transitória,
desvanecida a turva miragem dos sentidos.
Amor, ódio, saúde, doença, vida, morte:
extinguiram-se estas sombras falsas na tela da dualidade.
A tempestade de maya serenou
com a varinha mágica da intuição profunda.
Presente, passado, futuro, já não existem para mim,
somente o Eu sempiterno, onifluente, Eu, em toda parte.
Planetas, estrelas, poeira de constelações, terra,
erupções vulcânicas de cataclismos do juízo final,
a fornalha modeladora da criação,
geleiras de silenciosos raios X, dilúvios de elétrons ardentes,
pensamentos de todos os homens, pretéritos, presentes, futuros,
toda folhinha de grama, eu mesmo, a humanidade,
cada partícula da poeira universal,
raiva, ambição, bem, mal, salvação, luxúria,
tudo assimilei, tudo transmutei
no vasto oceano de sangue de meu próprio Ser indiviso.
Júbilo em brasa, freqüentemente abanado pela meditação,
cegando meus olhos marejados,
explodiu em labaredas imortais de bem-aventurança,
consumiu minhas lágrimas, meus limites, meu todo.
Tu és Eu, Eu sou Tu,
o Conhecer, o Conhecedor, o Conhecido, unificados!
Palpitação tranqüila, ininterrupta, paz sempre nova,
eternamente viva.
Deleite transcendente a todas as expectativas da imaginação,
beatitude do samadhi!
Nem estado inconsciente,
nem clorofórmio mental sem regresso voluntário,
Samadhi amplia meu reino consciente
para além dos limites de minha moldura mortal
até a mais longínqua fronteira da eternidade,
onde Eu, o Mar Cósmico,
observo o pequeno ego flutuando em Mim.
Ouvem-se, dos átomos, murmúrios móveis;
a terra escura, montanhas, vales são líquidos em fusão!
Mares fluidos convertem-se em vapores de nebulosas!
OM sopra sobre os vapores, descortinando prodígios.
Mais além,
oceanos desdobram-se revelados, elétrons cintilantes,
até que ao último som do tambor cósmico,
transfundem-se as luzes mais densas em raios eternos
de bem-aventurança que em tudo se infiltra.
Da alegria eu vim, para a alegria eu vivo, na sagrada alegria,
dissolvo-me.
Oceano da mente; bebo todas as ondas da criação.
Os quatro véus do sólido, líquido, gasoso, e luminoso,
levantados.
Eu, em tudo, penetro no Grande Eu.
Extintas para sempre as vacilantes, tremeluzentes sombras
das lembranças mortais:
imaculado é meu céu mental – abaixo, à frente e bem acima;
eternidade e Eu, um só raio unido.
Pequenina bolha de riso, eu,
converti-me no próprio Mar da Alegria.
singrado para longe todo o amanhecer de alegria transitória,
desvanecida a turva miragem dos sentidos.
Amor, ódio, saúde, doença, vida, morte:
extinguiram-se estas sombras falsas na tela da dualidade.
A tempestade de maya serenou
com a varinha mágica da intuição profunda.
Presente, passado, futuro, já não existem para mim,
somente o Eu sempiterno, onifluente, Eu, em toda parte.
Planetas, estrelas, poeira de constelações, terra,
erupções vulcânicas de cataclismos do juízo final,
a fornalha modeladora da criação,
geleiras de silenciosos raios X, dilúvios de elétrons ardentes,
pensamentos de todos os homens, pretéritos, presentes, futuros,
toda folhinha de grama, eu mesmo, a humanidade,
cada partícula da poeira universal,
raiva, ambição, bem, mal, salvação, luxúria,
tudo assimilei, tudo transmutei
no vasto oceano de sangue de meu próprio Ser indiviso.
Júbilo em brasa, freqüentemente abanado pela meditação,
cegando meus olhos marejados,
explodiu em labaredas imortais de bem-aventurança,
consumiu minhas lágrimas, meus limites, meu todo.
Tu és Eu, Eu sou Tu,
o Conhecer, o Conhecedor, o Conhecido, unificados!
Palpitação tranqüila, ininterrupta, paz sempre nova,
eternamente viva.
Deleite transcendente a todas as expectativas da imaginação,
beatitude do samadhi!
Nem estado inconsciente,
nem clorofórmio mental sem regresso voluntário,
Samadhi amplia meu reino consciente
para além dos limites de minha moldura mortal
até a mais longínqua fronteira da eternidade,
onde Eu, o Mar Cósmico,
observo o pequeno ego flutuando em Mim.
Ouvem-se, dos átomos, murmúrios móveis;
a terra escura, montanhas, vales são líquidos em fusão!
Mares fluidos convertem-se em vapores de nebulosas!
OM sopra sobre os vapores, descortinando prodígios.
Mais além,
oceanos desdobram-se revelados, elétrons cintilantes,
até que ao último som do tambor cósmico,
transfundem-se as luzes mais densas em raios eternos
de bem-aventurança que em tudo se infiltra.
Da alegria eu vim, para a alegria eu vivo, na sagrada alegria,
dissolvo-me.
Oceano da mente; bebo todas as ondas da criação.
Os quatro véus do sólido, líquido, gasoso, e luminoso,
levantados.
Eu, em tudo, penetro no Grande Eu.
Extintas para sempre as vacilantes, tremeluzentes sombras
das lembranças mortais:
imaculado é meu céu mental – abaixo, à frente e bem acima;
eternidade e Eu, um só raio unido.
Pequenina bolha de riso, eu,
converti-me no próprio Mar da Alegria.
(Paramahansa Yogananda)
(*) Samadhi: termo sânscrito que significa: estado uno de consciência, autorrealização; meditação
profunda, êxtase; união com Deus.
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