sexta-feira, 2 de março de 2012

Goswami e a Filosofia Védica

Hoje não se pode falar em física quântica sem mencionar este físico extraordinário chamado Amit Goswami, doutor em física nuclear. 
Nascido na Índia, filho de um mestre brâmane, Goswami, no entanto, dizia-se materialista e assim prosseguiu dos 14 aos 45 anos de idade. O próprio estudo quântico da onda de possibilidades levou-o à meditação e à busca do ponto de encontro entre a ciência e a espiritualidade.
Autor de uma série de livros como A Física da Alma, A Janela Visionária, O Médico Quântico, etc., Goswami consegue unir os mais modernos conceitos da nova física com o pensamento ancestral védico.
Extraí este interessante trecho do livro A Janela Visionária:

Devido à minha origem indiana (estudei os Upanixads desde muito novo, com meu pai), eu conhecia as doutrinas da filosofia indiana, de acordo com as quais tanto a matéria como a mente estão subsumidas em Brahman - a base universal do ser, a consciência. E me convenci de que isso estava errado. A base de minha convicção foi a afirmação do físico Richard Feynman, expressa em 'The Feynman Lectures in Physics (As Conferências de Feynman sobre Física), de que tudo - inclusive a mente e a consciência - é feito de átomos. A mente e a consciência devem ser, de algum modo, epifenômenos emergentes do cérebro material, dos átomos que formam o cérebro e, em última análise, das partículas elementares. Como a maioria dos físicos e cientistas, eu acreditava realmente nisso. Não havia lugar para Brahman - para uma base do ser que não a matéria - na minha filosofia de físico. Uma consciência epifenomênica não tem eficácia causal para provocar o colapso das funções de onda. Mesmo assim, eu não podia abandonar a idéia de que a consciência provoca o colapso das funções de onda quânticas. Eu sabia, de alguma forma, que isso era uma espécie de chave. Esse impasse me paralisou por um bom tempo. Enquanto isso, eu investigava a natureza da consciência diretamente, meditando e convivendo com místicos. Com essa aventura, enfim, veio a ruptura. Acompanhei um amigo místico, Joel Morwood, até Ojai para ouvir o famoso mestre espiritual Krishnamurti falar. Depois da conferência, Joel e eu começamos a discutir longamente sobre os meus apuros com a observação quântica. Eu disse: "Acho que compreendo a consciência, mas..."
Joel me interrompeu: "É possível compreender a consciência?"
"É possível, certamente", disse eu, sem um pingo de arrogância de físico. "Eu disse a você como a nossa observação consciente, a nossa consciência contra o colapso da onda quântica..." Eu ia lhe dizer que eu sabia que essa era a chave para se compreender a consciência, mas Joel me interrompeu outra vez.
"Afinal, é o cérebro do observador que antecede a consciência ou é a consciência que antecede o cérebro?"
Percebi a armadilha de Joel. "Eu me refiro à consciência como sujeito de experiências."
"A consciência antecede as experiências. Ela independe do objeto e independe do sujeito", disse Joel.
"É claro, isso é misticismo da melhor qualidade, mas, na minha linguagem, você está se referindo a algum aspecto não-local da consciência."
Joel, porém, não se intimidou com o meu jargão quântico. "Seus antolhos científicos impedem que você entenda. No fundo, você acredita que a consciência pode ser compreendida pela ciência, que a consciência emerge do cérebro, que ela é um epifenômeno. Entenda o que dizem os místicos. A consciência é prévia e incondicionada. Ela é tudo o que existe. Não existe nada a não ser Deus."

Essa última frase impulsionou, de alguma forma, uma reviravolta no meu modo de pensar. Percebi, de súbito, que a consciência é a base de todo o ser, o que os rishis, ou videntes upanixádicos denominavam Brahman. Se a consciência é a base de todo o ser, a matéria existe como possibilidades dentro da consciência. E a consciência escolhe entre as possibilidades disponíveis reconhecendo uma em particular para cada evento em particular.

O cálice reversível da Gestalt
Quando você observa uma figura gestáltica de duplo significado, como o famoso desenho da taça que também pode ser visto como dois rostos de perfil, você só vê um aspecto de cada vez. Mas você não muda nada nas linhas do desenho quando vê o outro aspecto. A possibilidade está ali; você apenas a reconhece.
Para evitar o dualismo, precisamos virar a metafísica materialista de cabeça para baixo. A matéria não é a base do ser, como afirmava Feynman. Também não é a única fonte da causalidade no mundo. É claro que as interações materiais entre as partículas elementares determinam todas as possibilidades materiais e suas probabilidades, numa dada situação dinâmica, calculáveis pela mecânica quântica - isso é causação ascendente e mudança contínua. Mas nós temos, em acréscimo a isso, uma causação descendente, quando a consciência causa o colapso da onda de possibilidade num evento atual. Isso é mudança descontínua.

Magritte
Nosso olhar altera as coisas. O artista René Magritte viu um lindo bolo exposto na vitrine de uma loja e entrou para comprá-lo. Quando o vendedor foi tirar o bolo do mostruário, Magritte objetou: "Eu não quero este bolo; dê-me um igual a este, mas que venha dos fundos da loja", exigiu ele. O vendedor ficou surpreso. "São todos da mesma fornada, que eu fiz hoje de manhã", protestou ele. "Você não entendeu", disse Magritte. "As pessoas ficaram olhando para este que está na vitrine."
Minha intuição de que a observação quântica é a chave para a compreensão da consciência estava certa. Mas essa compreensão requer saltos criadores descontínuos que desafiam a sabedoria convencional. 

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