Que havia antes do antes?
Grande
parte da comunidade científica tem como dado assegurado que o universo e nós
mesmos viemos de uma incomensurável explosão - big bang - ocorrida há cerca de
13,7 bilhões de anos. Há um derradeiro fóssil desse evento, verificado pela
ciência. Em 1965 dois técnicos norte-americanos da Bell Telephone Laboratories
de New Jersey, Arno Penzias e Robert Wilson construíram um aparelho ultra
sensível de microondas. Ao testarem o aparelho, constataram que nele havia um
ruído que não podiam limpar. Ele vinha uniformemente de todas as partes do
universo, uma onda baixíssima de três graus Kelvin.Qual a origem deste ruído
cósmico de fundo? Eles e outros astrofísicos constataram que era o último eco
da grande explosão e o derradeiro resto da irradiação inicial. Tomando como
referência as galáxias mais distantes que estão fugindo de nós a grande
velocidade e cuja radiação vermelha está agora chegando a nós, concluíram que
tal fato teria ocorrido cerca de 13,7 bilhões de anos atrás. Por isso, Penzias
e Wilson ganharam o prêmio Nobel em física em 1978. Quer dizer, a nossa idade
não é aquela de nosso nascimento mas essa, do nascimento do universo há tantos
bilhões de anos, quando estávamos potencialmente todos lá juntos com os demais
seres do universo. Este dado, segundo alguns, teria sido a maior descoberta da
ciência.
Que
havia antes do big bang? Os cosmólogos nos sugerem que havia o vácuo quântico,
o estado de energia de fundo do universo, origem de tudo o que existe. Outros o
chamam de abismo alimentador de todo o ser. Condensação dele, seria aquele
pontozinho que primeiro se inflacionou como um balão e depois explodiu dando
origem talvez a outros eventuais mundos paralelos, consoante a teoria das
cordas. Mas o vácuo quântico, última realidade atingida pela microfísica, é
ainda uma realidade discernível. É o antes. Mas antes deste antes discernível o
que havia?
Num
programa de rádio perguntaram a Penzias o que havia antes do big bang e do
vácuo quântico? Ele respondeu: "não sabemos; mais sensatatamente podemos
dizer que não havia nada". A seguir uma radiouvinte, irritada, telefonou
acusando Penzias de ateu. Ele sabiamente retrucou: "Madame, creio que a
senhora não se deu conta das implicações do que acabo de dizer. Antes do big
bang não havia nada daquilo que hoje existe. Caso houvesse caberia a pergunta:
de onde veio?" Em seguida comenta que se havia o nada e de repente
começaram a aparecer coisas é sinal de que Alguém as tirou do nada. E conclui
dizendo que sua descoberta poderá levar a uma superação da histórica inimizade
entre ciência e religião.
O que podemos, honradamente, dizer é que antes do antes havia o Incognoscível, o Impenetrável, o Mistério. Ora, os nomes que as religiões atribuem àquilo que chamam de Deus ou Tao, ou Javé ou Olorum ou qualquer outra Entidade é exatamente de ser o Incognoscível e o Mistério a que se referia Penzias. Portanto, havia "Deus". Ele não criou o mundo no tempo e no espaço, mas com o tempo e com o espaço.
Que
havia antes do antes? Agora podemos balbuciar: Havia a "Realidade"
fora do espaço-tempo, no absoluto equilíbrio de seu movimento, a Totalidade de
simetria perfeita, a Energia infinita e o Amor transbordante. Sequer deveríamos
usar tais nomes, pois eles surgiram depois, quando tudo já havia sido trazido à
existência. Na verdade deveríamos calar. Mas como somos seres de fala, usamos
palavras que nada dizem. Apenas são flechas que apontam para um Mistério.
(Texto de Leonardo Boff, teólogo, membro da
Comissão da Carta da Terra)
A Criação segundo o Rig Veda
Não havia então não-existência nem existência;
A Criação segundo o Rig Veda
Não havia então não-existência nem existência;
não havia o reino do ar nem o firmamento por trás dele.
O que protegia e onde? E o que dava abrigo?
Estava ali a água, a desmedida profundidade da água?
Não havia morte então, nem havia algo imortal;
não havia sinal ali, o divisor do dia e da noite.
A Massa Unitária, sem vida, vivia por sua própria natureza;
além dela nada mais havia.
As trevas lá estavam; a princípio escondido nas trevas
Tudo era um caos indiscriminado.
Tudo que existia então era vazio e informe.
Mas pelo grande poder do Calor nasceu aquela Unidade.
A seguir, surgiu o Desejo no começo, o Desejo,
a semente e o germe primordial do Espírito.
Os sábios que buscavam com o pensamento de seus corações
descobriram o parentesco do existente no não-existente.
Transversalmente estava estendida uma linha de separação:
o que, então, havia acima e abaixo dela?
Havia progenitores, havia forças poderosas,
ali havia ação livre e energia mais além.
Quem verdadeiramente conhece e quem pode aqui
declarar de onde nasceu e de onde veio essa criação?
Os deuses são posteriores a essa produção do mundo.
Quem sabe então como se originou?
Ele, a primeira origem da criação,
formou tudo ou não formou.
Na verdade, Ele, cujo olho vela pelo mundo nos altos céus,
sabe, ou talvez não saiba...
Rigveda X:129
O que protegia e onde? E o que dava abrigo?
Estava ali a água, a desmedida profundidade da água?
Não havia morte então, nem havia algo imortal;
não havia sinal ali, o divisor do dia e da noite.
A Massa Unitária, sem vida, vivia por sua própria natureza;
além dela nada mais havia.
As trevas lá estavam; a princípio escondido nas trevas
Tudo era um caos indiscriminado.
Tudo que existia então era vazio e informe.
Mas pelo grande poder do Calor nasceu aquela Unidade.
A seguir, surgiu o Desejo no começo, o Desejo,
a semente e o germe primordial do Espírito.
Os sábios que buscavam com o pensamento de seus corações
descobriram o parentesco do existente no não-existente.
Transversalmente estava estendida uma linha de separação:
o que, então, havia acima e abaixo dela?
Havia progenitores, havia forças poderosas,
ali havia ação livre e energia mais além.
Quem verdadeiramente conhece e quem pode aqui
declarar de onde nasceu e de onde veio essa criação?
Os deuses são posteriores a essa produção do mundo.
Quem sabe então como se originou?
Ele, a primeira origem da criação,
formou tudo ou não formou.
Na verdade, Ele, cujo olho vela pelo mundo nos altos céus,
sabe, ou talvez não saiba...
Rigveda X:129