A ciência descobriu a espiritualidade. Hoje, há uma
teoria científica logicamente consistente sobre Deus e a espiritualidade com
base na física quântica e no primado da consciência. E temos dados
experimentais replicados apoiando essa teoria. Noutras palavras, embora a mídia
ainda não alardeie isso, há agora uma ciência viável da espiritualidade
prenunciando uma mudança de paradigma, a superação da atual visão de mundo que
estimula exclusivamente a materialidade.
Você pode chamar a nova ciência de ciência de Deus, mas
não precisa fazê-lo. Na nova ciência, não existe Deus como um imperador todo
poderoso, fazendo julgamentos a torto e a direito; existe uma inteligência
pervasiva que também é o agente criativo da consciência, e que você pode chamar
de Deus, se quiser. Mas esse Deus é objetivo, é científico.
E o que devemos fazer a respeito disso? O que podemos
fazer para devolver Deus – na verdade, nossa própria fonte superior de causação
– e a espiritualidade a nossas vidas e à sociedade? A resposta que apresento é
o ativismo quântico, um movimento renovador com tríplice propósito.
Primeiro, recorremos ao ativismo a fim de chamar a
atenção da mídia para o pensamento quântico e o primado da consciência; isso
vai gerar apoio a novas pesquisas e conferir peso e reconhecimento ao novo
paradigma em detrimento da ciência mecanicista tradicional.
Segundo, usamos o poder transformador da física quântica
para nos transformar individualmente e nos tornar exemplos e arautos da mudança
social.
Terceiro, reconhecemos que a atual estrutura social,
dominada pelo materialismo, não favorece a iniciativa das pessoas comuns que
desejam ter uma vida significativa, criativa e transformadora. Assim,
defendemos o ativismo como instrumento de mudança de nossas instituições
sociais, de maneira a permitir que todos possam realizar seu potencial humano e
alcançar a felicidade, o que só é possível por meio de metas criativas e
espirituais.
Há alguns anos, estava realizando uma palestra no Brasil
sobre o recém-surgido paradigma da ciência baseado na física quântica. Um
participante me desafiou:
– Já ouvi falar muito sobre novas interpretações que
integram ciência e espiritualidade. Mas isso não é só teoria? Quando é que
vocês vão nos apresentar comprovações ou dados?
Por um instante, fiquei abalado, mas depois respondi:
– Na verdade, fizemos nosso trabalho. As evidências
científicas da espiritualidade, incluindo dados experimentais, estão aqui. Mas
eu pergunto: o que estamos fazendo com elas?
A pergunta deu margem a muitos questionamentos, alguns
dos quais descrevo a seguir.
• Se a espiritualidade foi restabelecida pela ciência em
nossa vida, então devemos observá-la. Minha formação religiosa diz que devemos
ser virtuosos. Eu gostaria de me tornar um ser humano mais amoroso, sincero,
justo e solidário. A nova ciência pode me ajudar?
• Quando penso na espiritualidade, penso em Deus, e tenho
dúvidas sobre Ele. Essas dúvidas fizeram com que eu me voltasse para objetivos
materiais, que não me deixaram mais feliz. Eu gostaria de resgatar a espiritualidade
em minha vida. O que tem a dizer a nova ciência?
• Se a espiritualidade é real, isso significa ter de
abdicar de metas materiais em seu benefício? E se eu quiser explorar meu
potencial criativo?
• Desisti de Deus, pois não entendo como um Deus bom permite
que aconteçam tantas coisas ruins. Não consigo aceitar a divisão entre bem e
mal do cristianismo popular. A nova ciência pode me ajudar nessa questão?
• Gostaria de trabalhar em soluções para nossos problemas
sociais. Isso é espiritual?
Hoje, há muita gente confusa em relação à ética, ao valor
da religião e da espiritualidade, e mesmo sobre o livre-arbítrio e a
criatividade na busca do potencial humano; isso é resultado das afirmações
categóricas e desmedidas da ciência convencional em prol do materialismo
científico – todas as coisas (objetos materiais, pensamentos e ideias como
espiritualidade e Deus) podem ser reduzidas a partículas elementares de matéria
e suas interações.
O cristianismo popular deveria oferecer respostas a tais
disposições, mas suas concepções simplistas não nos ajudam a lidar com essas
afirmações. Assim, a ideia de que Deus é uma ilusão e que seria melhor
esquecê-lo foi ganhando terreno.
Mas o Deus que os cientistas tradicionais denigrem é
justamente aquele da crença popular simplista: um Deus onipotente que, de seu
trono celeste, julga as pessoas e as envia para o céu ou para o inferno; um
Deus que criou o mundo e todas as espécies vivas de uma só vez há seis mil
anos; um Deus que permite que coisas ruins aconteçam a pessoas boas; um Deus
que se supõe perfeito e que, no entanto, tem imagens imperfeitas – ou seja,
nós.
Pois bem, precisamos ser claros. Que natureza de Deus a
física quântica e o pensamento do primado da consciência estão postulando? O
Deus da nova ciência é compatível com o Deus de que falam as grandes tradições
religiosas? Discuti essas questões num livro recente, Deus não está morto, e
apresento um rápido resumo de seus pontos básicos.
Na ciência materialista, existe apenas uma fonte de
causação: as interações materiais. Damos a elas o nome de causação ascendente,
pois a causa sobe desde o nível básico das partículas elementares até os
átomos, as moléculas e a matéria densa que inclui as células vivas e o cérebro.
Tudo bem, só que, segundo a física quântica, os objetos são ondas de
possibilidade, e tudo que as interações materiais conseguem fazer é transformar
possibilidade em possibilidade, mas nunca em realidades que experimentamos.
Como o dualismo, este também é um paradoxo. Para transformar possibilidade em
realidade, é necessária uma nova fonte de causação, e vamos chamá-la de
causação descendente.
Quando percebemos que a consciência é a base de toda a
existência e que objetos materiais são possibilidades da consciência, então
também percebemos a natureza da causação descendente: ela consiste na escolha
de uma das facetas do objeto multifacetado da onda de possibilidades, que então
se manifesta como uma realidade. Como a consciência está escolhendo uma de suas
próprias possibilidades, e não algo separado, não existe dualismo.
[Por Amit Goswami. Extraído do livro O Ativista Quântico, Ed. Aleph, 2009]
Ilustrações: Internet
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